Qualquer festa popular no mundo que acabe com dezenas de
pessoas assassinadas é imediatamente classificada, com toda razão, de tragédia,
consternando sua população e autoridades. A não ser que isso ocorra em
ambientes de degradação da ordem e degeneração quase completa da autoridade
constituída, onde o impacto do desastre se dilui no torpor anestesiado de uma
sociedade já sem forças para reagir.
No Ceará, a discussão do momento é saber se o número de
homicídios no Estado durante o Carnaval foi maior do que o registrado no ano
anterior, ou se constitui ou não, uma curva ascendente que destoa dos outros
finais de semana. Fala-se em 70 homicídios no período, o governo, reservadamente,
nega. O balanço final deve ser divulgado pela Secretaria de Segurança nesta
quinta.
Qualquer que sejam esses números, a simples expectativa de
que tudo piorou, sentimento que nasce da percepção sensível e da famosa
sensação de insegurança, já basta para mostrar que a coisa desandou de vez.
Some-se a isso o avanço absurdo dos números da violência no Ceará, para que o
quadro pós-carnaval se configure em morticínio anunciado, de certa forma, pela
própria dinâmica do crime.
Publico abaixo uma foto que tirei na terça-feira de Carnaval,
em Fortaleza, de um outdoor na Avenida Desembargador Gonzaga, no bairro Cidade
dos Funcionários, que considero significativa dos dias atuais:
Trata-se
de uma campanha movida pelo Sindicato dos Policiais Civis de Carreira do Estado
do Ceará, com um retumbante alerta aos cidadãos: CUIDADO! Para dar
credibilidade ao recado, a peça se vale do descrédito do governo estadual na
área e manda ver: SEIS PESSOAS SÃO ASSALTADAS A CADA HORA NO CEARÁ.
O
que esperar de um Estado onde policiais civis e militares vivem a denunciar a
violência?
A
resposta nos remete ao início do texto: vivemos o ápice de um processo de
degeneração. Agora, resta-nos esperar a mórbida contagem oficial dos cadáveres
do Carnaval. Restou-nos a contagem fria dos mortos. E resta-nos ainda rezar
para que novos gestores apareçam o quanto antes.
Fonte: Blog do Wanfil
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