terça-feira, 9 de julho de 2013

Liberdade de expressão ameaçada - jornalista condenado a 7 meses e 16 dias por escrever crônica ficcional


Mesmo com o texto em primeira pessoa e sem citar nomes ou identificar o personagem com alguém, o jornalista José Cristian Góes foi condenado a sete meses e 16 dias de detenção em Sergipe. O crime não poderia ter sido mais terrível: escreveu uma crônica ficcional sobre o coronelismo. Isso mesmo! Certamente algum ‘coronel’ se identificou com o texto e ‘mandou brasa’ pra cima do autor do texto. Quem?

Ora, o único que achou que fosse pra ele o texto foi nada mais nada menos que ... o cunhado do Governador Marcelo Deda, o desembargador e vice-presidente do Tribunal de Justiça Edson Ulisses. Será que ele se acha um ‘coronel’?


Mesmo com o texto em primeira pessoa e sem citar nomes ou identificar o personagem com alguém, o jornalista José Cristian Góes foi condenado a sete meses e 16 dias de detenção em Sergipe. O crime não poderia ter sido mais terrível: escreveu uma crônica ficcional sobre o coronelismo. Isso mesmo! Certamente algum ‘coronel’ se identificou com o texto e ‘mandou brasa’ pra cima do autor do texto. Quem?


Ora, o único que achou que fosse pra ele o texto foi nada mais nada menos que ... o cunhado do Governador Marcelo Deda, o desembargador e vice-presidente do Tribunal de Justiça Edson UlissesSerá que ele se acha um ‘coronel’?

O desembargador disse ter se sentido pessoalmente ofendido pela expressão “jagunço das leis” e pediu a prisão do jornalista por injúria. Quem assinou a condenação absurda? O juiz substituto Luiz Eduardo Araújo Portela do Juizado Especial Criminal em Aracaju.

“O desembargador Edson Ulisses, cunhado do governador Marcelo Déda (PT), alegou que a crônica literária intitulada “Eu, o coronel em mim”, escrita pelo jornalista Cristian Góes em maio de 2012 em seu blog, ataca diretamente o governador de Sergipe e a ele, por consequência. Por isso, ingressou com duas ações judiciais. Na criminal, o desembargador pedia a prisão de quatro anos do jornalista. Na ação cível, solicita que o juiz estabeleça um valor de indenização por danos morais e já estipula os honorários dos seus advogados em R$ 25 mil. Numa audiência, o desembargador afirma: “Todo mundo sabe que ele escreveu contra o governador e contra mim. Não tem nomes e nem precisa, mas todo mundo sabe que o texto ataca Déda e a mim”.” (Pragmatismo Político)

Vejam o texto e tire suas conclusões sobre a atitude do magistrado:

“Eu, o coronel em mim

Mando e desmando. Faço e desfaço

Está cada vez mais difícil manter uma aparência de que sou um homem democrático. Não sou assim, e, no fundo, todos vocês sabem disso. Eu mando e desmando. Faço e desfaço. Tudo de acordo com minha vontade. Não admito ser contrariado no meu querer.  Sou inteligente, autoritário e vingativo. E daí?

No entanto, por conta de uma democracia de fachada, sou obrigado a manter também uma fachada do que não sou. Não suporto cheiro de povo, reivindicações e nem com versa de direitos. Por isso, agora, vocês estão sabendo o porquê apareço na mídia, às vezes, com cara meio enfezada: é essa tal obrigação de parecer democrático.

Minha fazenda cresceu demais. Deixou os limites da capital e ganhou o estado. Chegou muita gente e o controle fica mais difícil. Por isso, preciso manter minha autoridade. Sou eu quem tem o dinheiro, apesar de alguns pensarem que o dinheiro é público. Sou eu o patrão maior. Sou eu quem nomeia, quem demite. Sou eu quem contrata bajuladores, capangas, serviçais de todos os níveis e bobos da corte para todos os gostos.

Apesar desse poder divino sou obrigado a me submeter à eleições, um absurdo. Mas é outra fachada. Com tanto poder, com tanto dinheiro, com a mídia em minhas mãos e com meia dúzia de palavras modernas e bem arranjadas sobre democracia, não tem para ninguém. É só esperar o dia e esse povo todo contente e feliz vota em mim. Vota em que eu mando.

Ô povo ignorante! Dia desses fui contrariado porque alguns fizeram greve e invadiram uma parte da cozinha de uma das Casas Grande. Dizem que greve faz parte da democracia e eu teria que aceitar. Aceitar coisa nenhuma. Chamei um jagunço das leis, não por coincidência marido de minha irmã, e dei um pé na bunda desse povo.

Na polícia, mandei os cabras tirar de circulação  pobres, pretos e gente que fala demais em direitos. Só quem tem direito sou eu. Então, é para apertar mais. É na chibata. Pode matar que eu garanto. O povo gosta. Na educação, quanto pior melhor. Para quê povo sabido? Na saúde...se morrer “é porque Deus quis”.

Às vezes sinto que alguns poucos escravos livres até pensam em me contrariar. Uma afronta. Ameaçam, fazem meninice, mas o medo é maior. Logo esquecem a raiva e as chibatadas. No fundo, eles sabem que eu tenho o poder e que faço o quero.  Tenho nas mãos a lei, a justiça, a polícia e um bando cada vez maior de puxa-sacos.

O coronel de outros tempos ainda mora em mim e está mais vivo que nunca. Esse ser coronel que sou e que sempre fui é alimentado por esse povo contente e feliz que festeja na senzala a minha necessária existência .”











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