quinta-feira, 6 de março de 2014

Homicídios no Carnaval do Ceará: desastre anunciado (Blog do Wanfil)


Qualquer festa popular no mundo que acabe com dezenas de pessoas assassinadas é imediatamente classificada, com toda razão, de tragédia, consternando sua população e autoridades. A não ser que isso ocorra em ambientes de degradação da ordem e degeneração quase completa da autoridade constituída, onde o impacto do desastre se dilui no torpor anestesiado de uma sociedade já sem forças para reagir.

No Ceará, a discussão do momento é saber se o número de homicídios no Estado durante o Carnaval foi maior do que o registrado no ano anterior, ou se constitui ou não, uma curva ascendente que destoa dos outros finais de semana. Fala-se em 70 homicídios no período, o governo, reservadamente, nega. O balanço final deve ser divulgado pela Secretaria de Segurança nesta quinta.

Qualquer que sejam esses números, a simples expectativa de que tudo piorou, sentimento que nasce da percepção sensível e da famosa sensação de insegurança, já basta para mostrar que a coisa desandou de vez. Some-se a isso o avanço absurdo dos números da violência no Ceará, para que o quadro pós-carnaval se configure em morticínio anunciado, de certa forma, pela própria dinâmica do crime.

Publico abaixo uma foto que tirei na terça-feira de Carnaval, em Fortaleza, de um outdoor na Avenida Desembargador Gonzaga, no bairro Cidade dos Funcionários, que considero significativa dos dias atuais:



Trata-se de uma campanha movida pelo Sindicato dos Policiais Civis de Carreira do Estado do Ceará, com um retumbante alerta aos cidadãos: CUIDADO! Para dar credibilidade ao recado, a peça se vale do descrédito do governo estadual na área e manda ver: SEIS PESSOAS SÃO ASSALTADAS A CADA HORA NO CEARÁ.

O que esperar de um Estado onde policiais civis e militares vivem a denunciar a violência?

A resposta nos remete ao início do texto: vivemos o ápice de um processo de degeneração. Agora, resta-nos esperar a mórbida contagem oficial dos cadáveres do Carnaval. Restou-nos a contagem fria dos mortos. E resta-nos ainda rezar para que novos gestores apareçam o quanto antes.

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