Ontem,
o Comandante Geral da Polícia Militar do Ceará deu uma verdadeira demonstração
de sua incapacidade de assumir função tão importante na sociedade.
Sua
franca ignorância revela um dos principais motivos pelos quais estamos
entregues ao medo.
Em
entrevista ao programa Ideia
Jangadeiro o coronel disse que desmilitarizar as policias militares
é ‘a maior temeridade’, e mais ‘comandar uma tropa de 15.000 homens sem
hierarquia e disciplina é só imaginar...’.
Ontem, o Comandante Geral da Polícia Militar do Ceará deu uma verdadeira demonstração de sua incapacidade de assumir função tão importante na sociedade.
Sua franca ignorância revela um dos principais motivos pelos quais estamos entregues ao medo.
Em entrevista ao programa Ideia Jangadeiro o coronel disse que desmilitarizar as policias militares é ‘a maior temeridade’, e mais ‘comandar uma tropa de 15.000 homens sem hierarquia e disciplina é só imaginar...’.
Na
verdade, eu imagino muito isso e torço todos os dias para que isso ocorra. Mas
não poderia imaginar que um homem que passou três anos, supostamente, estudando
sobre teoria e prática de policiamento ostensivo possa desconhecer sobre o
próprio funcionamento da máquina administrativa do Estado e sobre a origem de
sua Polícia Militar, que se esforça para defender.
Para
provarmos a incapacidade intelectual, sobre esse assunto, do Comandante Geral
da PM começaremos explicando que a ideia da hierarquia e disciplina não
decorre da natureza policial das atividades da Polícia Militar, mas sim
da Administração Pública como um todo; e mais, é inerente a qualquer forma de
organização social, mesmo as de natureza privada, tais como empresas,
instituições religiosas, etc. Com base no Professor José dos Santos Carvalho
Filho, em seu Manual de Direito Administrativo, podemos afirmar que
“hierarquia é o escalonamento em plano vertical dos órgãos e agentes da
Administração que tem como objetivo a organização da função administrativa. A
disciplina funcional resulta do sistema hierárquico. Com efeito, se aos agentes
superiores é dado o poder de fiscalizar as atividades dos de nível inferior,
deflui daí o efeito de poderem eles exigir que a conduta desses seja adequada
aos mandamentos legais, sob pena de, se tal não ocorrer, serem os infratores
sujeitos às respectivas sanções.”
Logo,
quando se fala em hierarquia e disciplina não podemos apontar apenas para
militares, mas para toda a Administração Pública. O mito que se faz em torno
desse tema tem prejudicado, e muito, o entendimento do trabalho policial e sua
função na sociedade. Agora devemos separar uma hierarquia e disciplina
diferenciada, distante do propósito meramente administrativo, que é a
hierarquia e disciplina militares. Daí, devemos fazer uma análise do que é ser
militar.
Ora,
conforme Boer (1980: 225) a função militar é específica do Ser Militar, que
consiste no exercício de uma profissão burocratizada, especializada no manejo
da violência responsável pela segurança militar do Estado. Isso nos leva a
determinadas características que podem assombrar. O militar caracteriza-se pelo
autoritarismo, pessimismo em relação à natureza humana, o alarmismo, o
nacionalismo e o conservadorismo. Daí a rigidez de suas leis, do autoritarismo.
“E para não nos esquecermos de Boer: ‘O que é importante é que esse
autoritarismo não seja transferido para a vida política, por meio de um domínio
militar da sociedade” (1980: 228).’
Sem
estendermos mais sobre a explicação do militar, resumimos dizendo que é uma
pessoa preparada para a guerra, para aniquilar o inimigo em defesa da segurança
nacional.
Já
as polícias militares, fortemente influenciadas pelo Exército brasileiro, tem
uma função existencial bem diferente: a segurança pública. Muniz afirma que em
quase dois séculos de existência, as PPMM nem sempre funcionaram como
organizações policiais propriamente ditas. Na verdade, foram poucos os períodos
em que, de fato, elas puderam atuar como polícias urbanas e ostensivas.
Sendo
criadas como pequenos exércitos locais, as Polícias Militares desenvolveram uma
estrutura burocrática semelhante a do Exército, incorporando a ideologia
militar da época. As PPMM, em discordância com a realidade da violência
urbana, se revelaram instituições autoritárias, pessimistas, alarmistas e conservadoras.
A
constante permanência da mentalidade militar do Exército gerou distorções, pois
provocou a aparente separação de dois mundos: a vida dentro dos quartéis e a
rua.
Essa
herança maldita nos jogou a um conflito permanente entre a rigidez e combatividade
para a segurança nacional e a filosofia das polícias modernas de proximidade
com a população civil exigida para a segurança pública.
O
desconhecimento dessas coisas pelo Comandante Geral da Polícia Militar do Ceará
e suas declarações só nos leva a lamentarmos sua postura e nos envergonharmos
de seu pouco conhecimento sobre o assunto.
Seu
conhecimento é tão pífio que mesmo a origem deturpada da Instituição ignora.
Vejamos: As nossas policias ostensivas são distorções das gendarmarias, que são
forças militares com funções de polícia no âmbito da população civil. Temos
como exemplo a Gendarmerie Nationale na França, os Carabinieri na Itália, a
Guardia Civil na Espanha e a Guarda Nacional Republicana em Portugal. O
problema é que tais Instituições são extremamente diferentes de nossas PPMM.
Primeiro, são polícias nacionais e não estaduais. Além do mais, as atividades
de policiamento das gendarmarias, principalmente as europeias, se restringem a
áreas rurais, cabendo às polícias civis o policiamento, tanto ostensivo como
investigativo, das áreas urbanas. Bem diferente, não acham? Podemos acrescentar
que elas são polícias de ciclo completo (fazem o policiamento ostensivo e
investigativo, resumidamente).
Assim,
poderemos nos perguntar como esses países, cujas polícias locais são civis,
conseguem manter a disciplina de seus homens sem serem militares. Nova York,
por exemplo, tem a maior força policial municipal do mundo. São civis! Como o
Coronel Werisleik explicaria isso? Milagre?
Na
verdade, a minha maior temeridade é a permanência de homens no comando de uma
instituição retrógrada, instituída para reprimir movimentos sociais, e hoje em
dia seus próprios componentes, que ignora a necessidade de mudanças profundas
no regime que escravizam policiais e cidadãos ainda no período de ditadura
militar.
esses oficiais usam a hierarquia e disciplina para massacrar o praça por que sem esses fatores eles nao sao nada.
ResponderExcluirSó sabem comandar se for em cima da farda e nada mais, imcompetentes e oportunistas.
ResponderExcluirhá priori minhas desculpas mas,a policia militar estão entrando em guerra por si só...uns se comparando com outros...querendo ser melhor do que os outros...não são todos ,mas ,alguns praças fazem com civil o que os oficias fazem com os praças...a diferença é que os praças esta ganhando por isso....
ResponderExcluirSe desmilitarização não acontecesse, seria louvável que o comandante geral da policia militar fosse escolhida em eleição pela tropa, para que realmente existisse um interesse de lutar por que os escolheram para lhe representar, sabemos que hoje os comandantes não lutam pois sabem se reivindicar algo que desagrade o Governador vai ser exonerado, por isso se submetem a esta atitude de fazer somente o que mandam e nada mas....
ResponderExcluirO problema é que muita gente compara o Brasil com outros países, dizendo que só aqui temos,ainda uma polícia militar... Mas não entendem uma coisa, aqui o problema é cultural! a polícia faz o trabalho dela!
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