segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Caso Ingrid e Igor: as mortes no Bairro Ellery na visão na incompetente perícia cearense - O ERRO JÁ ERA ESPERADO


(Este blog já havia publicado dois artigos sobre a ineficiência e incompetência da Perícia Forense do Ceará; uma inclusive com o testemunho de um dos grandes peritos cearenses, Ranvier Feitosa. Os links de das publicações estão no final da matéria)

Amanhã, 26, completam-se exatos dez meses da festa pré-carnavalesca que virou tragédia no Bairro Ellery, em Fortaleza. Em frente à pracinha, a noite de alegria terminou com dois jovens mortos a tiros. Ingrid Mayara Oliveira Lima, 18, mãe de uma menina de quase dois anos, e Igor de Andrade Lima, 16, levaram um tiro, cada. E a arma que os matou, comprovadamente, é da Polícia Militar. O caso, rumoroso inclusive nos bastidores, com suspeita até de fraude em provas colhidas, agora tem desfecho surpreendente. Um erro crasso da Perícia Forense do Ceará (Pefoce), que levaria uma policial inocente à condenação, foi evitado a tempo. E a autoria do crime mudou.
A PF entrou no caso, a pedido da Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública (CGD). A Pefoce alegou impossibilidade de exames complementares para o caso – por ter outros 320 acumulados para entrega –, abandonou a apuração. Só por isso, a história terminou corrigida. A soldado Maria Euzene Rodrigues, 30, quatro anos de PM, dos quadros do Ronda, apontada como culpada até então, agora está totalmente inocentada da acusação. 

Mesmo com o exame residuográfico tendo sido negativo para Euzene (por não encontrar pólvora em suas mãos), a Pefoce sustentava que os tiros haviam saído da arma dela. A perícia da PF desfez a falha grave. Os tiros que mataram Mayara e Igor partiram, na verdade, da arma do cabo PM Raimundo Vieira da Costa, 44. Na próxima quinta-feira, 28, Vieira e o soldado José Raphael Olegário França, 27, também acusado por disparar na noite da ocorrência, serão julgados por um Conselho de Disciplina e poderão ser até expulsos dos quadros da PM.

No fim da noite de 26 de janeiro, Euzene, Vieira, Olegário e o soldado Thiago Lopes Simplício estavam na viatura do Ronda (prefixo RD 1036) chamada por populares. Mesmo após o término do Pré-Carnaval, a barulheira de carros de som continuava, na esquina das ruas Dr. Almeida Filho e Dr. Atualpa. Ao chegarem, depois de advertências e de deterem um rapaz por desacato, a viatura acabou sendo apedrejada. Para conter a confusão, Vieira e Olegário usaram suas pistolas. O próprio Vieira, no livro de registro do plantão, preenchido à mão e que descreve a ocorrência, chegou a admitir que ele dera três tiros e Olegário mais um.

Disseram ter sido tiros para o alto, “para intimidar os agressores que alvejaram duas pessoas”. Nos depoimentos, descreveram ser grupos rivais do bairro - supostamente tentando acertar o rapaz preso por desacato. Ainda na mesma noite, populares e até familiares já apontavam os policiais como responsáveis. Mayara morreu no local, um tiro acima do peito esquerdo, bem próximo ao pescoço. Igor morreu dois dias depois, a bala ficou alojada em sua cabeça. Outros dois rapazes saíram lesionados pelos tiros.

Em seu depoimento, Euzene descreveu que havia ido para o rádio pedir reforço, quando começaram a lançar pedras e outros objetos contra a viatura. Quando as outras viaturas chegaram, os jovens já estavam baleados. Num dos recursos apresentados no andamento do inquérito, os advogados de Euzene afirmaram que ela “durante mais de três anos, nunca efetuou nenhum disparo de arma de fogo”. O laudo da perícia estadual não trazia sequer a comparação visual das armas. (O Povo)

Foram várias as controvérsias na investigação sobre a autoria das mortes dos jovens Igor e Mayara, acontecidas no Pré-Carnaval do Bairro Ellery. A Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança (CGD) chegou a formalizar a suspeição à perícia da Polícia Federal. A pergunta feita foi: “Há adulteração ou indícios de adulteração dos números de série na armação e cano de todas as armas de fogo periciadas?”. A resposta voltou negativa, mas a dúvida existiu.

Até o caderno de registro de devolução das armas usadas pelos policiais na noite da ocorrência, feito no quartel, passou por perícia documentoscópica. Porque um dos acusados chegou a derramar café sobre a anotação, pouco antes das pistolas serem recolhidas como provas dos autos. As pistolas dos PMs da viatura RD 1036 só foram entregues para análise dois dias após as mortes, segundo a investigação.

O relatório final do inquérito considerou que, após o laudo pericial da PF, há “provas claras, robustas e convincentes acerca do envolvimento dos acusados”. (O Povo)

O inquérito concluído foi enviado, no último dia 8 de novembro, para a Promotoria da 2ª Vara do Júri. Chegou a três volumes, quase 500 páginas. O cabo Vieira e o soldado Olegário foram citados nos artigos 121 (homicídio) e 129 (lesão corporal) do Código Penal Brasileiro. As penas mínimas são de 12 anos para homicídio e cinco anos para a lesão. Podem dobrar, por serem duas vítimas por caso.

O POVO procurou a policial Maria Euzene Rodrigues, 30, para falar sobre a reviravolta do caso que resultou no assassinato de Ingrid Mayara e Igor de Andrade, no Bairro Ellery. Ela, que é soldado da Polícia Militar há quatro anos, pediu para não se pronunciar sobre o assunto. Em contato por telefone, a militar afirmou que só daria entrevista após ser comunicada oficialmente pela Controladoria Geral dos Órgãos de Disciplina da Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD).

Os outros policiais, apontados como suspeitos do duplo homicídio ocorrido no Pré-Carnaval do Bairro Ellery, negam a autoria dos disparos.

O jornal também procurou entrevistar, por meio da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social, os peritos da Pefoce que elaboraram os laudos balísticos. Eles apontaram a arma da PM Euzene como a responsável pelo disparos. 
Foram enviadas três perguntas aos peritos e ao diretor da Pefoce, Maximiano Barbosa. O POVO aguarda o retorno. Entre as indagações, o questionamento sobre o fato da Pefoce ter se recusado a complementar a análise sobre as armas. A Controladoria, após assumir o caso, solicitou uma série de informações sobre os laudos. (O Povo)

LINKS DAS MATÉRIAS PUBLICADAS NESSE BLOG QUE FALAM DA SITUAÇÃO DE RISCO PARA A POPULAÇÃO COM A PERÍCIA CEARENSE:
_  Os laudos alterados da Perícia Oficial do Ceará

AS MORTES NO PÓLO DE LAZER DO BAIRRO ELLERY E A GESTAÇÃO DE UM BODE EXPIATÓRIO


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