NO RASTRO DO SANGUE, O VEXAME OFICIAL
Em Fortaleza, o que já era ruim está
piorando muito. Definitivamente, a violência assume patamares escandalosos.
Desde o início do ano da graça de 2013, 444 pessoas foram assassinadas na
Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. A cada santo dia, uma média superior a
cinco homicídios. Nesse ritmo, chegaremos ao final do ano com mais de dois mil
assassinatos.
Uma guerra fratricida. No ano
passado, foram mortas 1.628 pessoas na antes pacata capital cearense. Uma média
superior a quatro homicídios por dia. Já eram números assustadores e
indecentes.
No rastro de sangue dos números de
2013, aflorou o vexame oficial. Ao ser confrontado com as estatísticas, o
secretário da Segurança, Francisco Bezerra, reagiu da pior maneira possível. Ou
seja, não assumiu nenhuma responsabilidade pela situação e ainda
responsabilizou terceiros.
O secretário Bezerra culpa pelas
mortes a ex-prefeita Luizianne Lins, que, segundo ele, não adotou políticas
para contemplar os jovens, a sociedade, que não baixa a maioridade penal, e, claro,
a imprensa, que comete o supremo abuso de “requentar (o assunto) todos os
dias”.
Na reportagem do O POVO que expôs a tragédia, o diretor-adjunto da
Divisão de Homicídios (DHPP), delegado Franco Pinheiro, não se esquivou das
perguntas e foi ao ponto. Para começo de conversa, disse que cada um dos oito
delegados dessa delegacia especializada cuida, em média, de 36,2 casos de
homicídios.
É óbvio que um delegado não pode
investigar 36 casos de assassinatos ao mesmo tempo. Dessa forma, perdura a
impunidade. Na impunidade, o crime passa a ser um bom negócio. A ciranda da
morte se fortalece.
Vejam mais essa declaração do
delegado Franco: “Nossas investigações andam a passos curtos, apesar do volume
dos investimentos feitos pelo Estado. Acredito que a forma de investir não foi
a mais adequada... Muitas vezes temos que deixar um local de crime rapidamente
e partir para outro”.
A avaliação do delegado, homem de
dentro do aparelho de segurança, é surpreendente dentro de um Governo que
engavetou o discurso da segurança pública desde o fatídico 3 de janeiro de
2012, dia em que Fortaleza parou e o Governo ficou rendido a uma greve ilegal
de policiais.
Responsabilizar terceiros pelos
acontecimentos é um sintoma clássico de uma política de segurança que está perdida,
sem rumo. Não há respostas efetivas do Governo para combater o aumento dos
índices de criminalidade. O Ronda envelheceu e foi engolido pela velha polícia.
O sonho de uma polícia comunitária
ficou retido dentro das caríssimas Hilux, com seu ar-condicionado, seus bancos
de couro e sua tração 4x4 que jamais será acionada. Um camburão de luxo.
HÁ BOAS POLÍTICAS
DE SEGURANÇA. E HÁ RUINS
No inferno das boas intenções, foi
posta em prática uma operação que, esta sim, reproduz experiências exitosas no
combate à violência. Trata-se das blitz que uniu Prefeitura e Estado para
fechar bares irregulares nos bairros mais violentos.
O mundo sabe que é nas imediações
desses bares e em certas horas que ocorre a maioria dos crimes. Mais de 100
bares foram fechados. Todos irregulares e sem alvará de funcionamento. Mas,
como garantir que no dia seguinte o local não voltou a funcionar como antes?
O fato é que esse tipo de operação é
uma boa novidade que precisa ganhar dimensão como efetiva política de segurança
pública. Até aqui, aparenta tratar-se de uma ação isolada e sem efetividade.
Outra novidade partiu do dirigente da
Guarda Municipal de Fortaleza, o major Plauto de Lima. Suas declarações atingem
o coração do discurso oficial. Como já nos acostumamos a ouvir, as drogas são
apresentadas como o pivô quase que exclusivo da explosão de homicídios em
Fortaleza.
Plauto vai ao ponto: “Morte por tráfico
é pontual. Não é preponderante. Se fosse preponderante, Recife era para ter
mais morte do que aqui; São Paulo era pra ter mais do que aqui; Rio de Janeiro
era pra ter mais do que aqui... E eles estão diminuindo. Por quê?” Sim, São
Paulo tem tanto ou mais problema de crack quanto Fortaleza. No entanto, os
índices de homicídios de lá são cinco vezes menos que o nosso.
Fonte: O Povo
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