domingo, 19 de maio de 2013

Por uma polícia única e de natureza civil e judiciária


Por Eliomar de Lima

A tensão crescente entre o governo estadual e o movimento reivindicativo de segmentos da Polícia Militar (PM) é o elemento mais preocupante da realidade política, neste momento, no Ceará (sem prejuízo das preocupações com a seca).

Ninguém ignora que a questão policial tem sido o calcanhar-de-aquiles da redemocratização do País. As corporações policiais dos estados brasileiros não acompanharam a transformação que levou o País a ter, pela primeira vez na história republicana, uma democracia plena. Nesta, as corporações policiais devem ser coerentes com a natureza civil da função policial. Contudo, um poderoso lobby, na Assembleia Constituinte, ainda impregnado pela cultura autoritária da ditadura, impediu a adequação da PM à nova realidade. Hoje, a sociedade paga por isso.

A PM é formada ainda dentro da visão militar de “combater o inimigo”, e não de servir ao cidadão. Só uma reforma profunda que erradique a natureza militar da PM resolverá essa discrepância.

Pelo fato de a estrutura da PM ser militar, tudo deve ser tratado de forma hierarquizada, e qualquer insatisfação da tropa é objetivamente encarada como motim. Não há como não ser. No entanto, se a instituição fosse civil, a natureza do conflito seria perfeitamente absorvível.

No ano passado, esse conflito chegou às raias da ruptura, pondo a cidade em polvorosa. Para evitar uma tragédia (e depois de verificar a existência de distorções estruturais reais e de erros político-administrativos), representantes da sociedade civil intermediaram uma solução política já que a situação chegara a um ponto extremamente perigoso. Naquela altura, insistiu-se no restabelecimento do diálogo como a ferramenta de solução própria da democracia.

Resolvido o impasse, insistiu-se para que no futuro a questão não fosse vista apenas de forma reativa, mas houvesse empenho dos responsáveis em entender sua complexidade, que vai muito além do simples acionamento disciplinar e jurídico (embora estes sejam indispensáveis como balizas da solução).

Se não houver essa percepção, as soluções serão aparentes. Isso tudo é exigido até que cheguemos a uma solução definitiva: uma polícia única e de natureza civil (sendo a parte ostensiva fardada, e a parte judiciária sem farda).

Editorial O Povo, 17.05.13


Um comentário:

  1. Não só os Policiais Militares, mas todos os Militares do País (Forças Armadas), são excluídos da Constituição e da sociedade. Quando um só brasileiro é excluído de uma das cláusulas do Art. 5º da Constituição Brasileira, que é composto só de cláusulas pétreas, esta não estará servindo a sua finalidade. Todos os militares são excluídos de várias dessas cláusulas, e aí?...

    ResponderExcluir